Estava aqui lembrando de quando o trouxemos pra casa. Minha irmã dirigia o carro enquanto eu o carregava todo trêmulo no meu colo, com receio de que ele fizesse xixi em cima de mim. Desde pequeno ele sempre fora um dos mais cativantes. Sempre estivera na frente da porta de casa, esperando pelo retorno de qualquer um de nós que tivesse saído por pouco ou muito tempo. Com preguiça ou velhice, às vezes, meio dormindo, só abanava o rabo da metade da escada que nos levava aos dormitórios.

O que era mesmo inesquecível era como ele tinha um carisma com todos. Qualquer pessoa na face da terra, mesmo que não gostasse de animais, ao fitá-lo, tinha seu coração desmanchado em flocos de neve, que iam derretendo como se estivessem sob o sol numa branda primavera.

Era companheiro de mamãe, coisa que minha irmã mais velha e eu, deixamos de ser há um bom tempo... A gente vai crescendo, os amigos vão tornando-se mais presentes, trabalhos, estudos. A verdade é que a gente acaba por querer desbravar esse mundo, cada vez mais e, sem perceber, vemos que nossos pais já estavam preparados para nos deixar homens e mulheres feitos para o mundo, mas nós nunca estaremos prontos para deixá-los.

Foi triste sua ida, embora tenha nos deixado grandes lembranças, memórias doces, saudades... A vida um dia foi muito boa com você ao nosso lado. Tenha certeza disso e obrigado por tudo...